quinta-feira, 9 de junho de 2011

Atraso do iPhone 5 pode levar Apple a perder espaço para o Android

EXAME.COM
MAURÍCIO GREGO

A rápida obsolescência dos smartphones e outros aparelhos eletrônicos pode irritar usuários, mas avançar rapidamente é crucial para os fabricantes


São Paulo — A história é conhecida por todos. Alguém compra um smartphone, tablet ou notebook. Um mês depois, descobre que seu aparelho novinho ficou ultrapassado porque surgiu um modelo muito melhor e mais potente pelo mesmo preço. Isso acontece o tempo todo, e tende a provocar sentimentos negativos no consumidor, que se sente traído pelo fabricante. Mesmo assim, para a indústria de eletrônicos, apresentar novas gerações de produtos a intervalos curtos é crucial para ter sucesso.
Uma história que ilustra muito bem isso é a do iPhone 5, nova geração do smartphone da Apple, prevista para o segundo semestre. A Apple usualmente anuncia uma nova geração do iPhone todos os anos, geralmente no segundo trimestre. No entanto, em março, circularam notícias de que a empresa atrasaria o lançamento do iPhone 5. Imediatamente, os analistas de Wall Street começaram a reajustar para baixo as projeções de resultados da Apple.
O banco de investimento Jefferies, por exemplo, estimou, num relatório divulgado no fim de março, que o atraso deve levar a Apple a vender 15% menos smartphones no período de junho a setembro. Isso fará o número total de smartphones comercializados neste ano fiscal, que termina em setembro, cair 4%. Já a estimativa para o preço das ações da Apple em setembro foi reduzida em 5% pelo banco.

iPhone 5 só em 2012?

Os analistas do Jefferies estão considerando, é claro, que muitas pessoas que poderiam comprar um iPhone nos próximos meses vão escolher outro smartphone se tiverem a percepção de que o aparelho da Apple está ficando ultrapassado. Pode-se extrapolar esse raciocínio perguntando o que aconteceria se o lançamento do iPhone 5 ficasse para 2012 – algo que não deve acontecer. 
Nessa situação imaginária, a Apple não teria um produto atualizado para oferecer durante o período mais forte de vendas, o fim do ano. Alguns consumidores, mais fiéis à marca, esperariam pacientemente pelo iPhone 5. Alguns comprariam o iPhone 4 mesmo defasado. Mas muitos simplesmente escolheriam um smartphone de outro fabricante. E o resultado é que a Apple perderia participação no mercado.
Se a Apple resolvesse baixar o preço para estimular as vendas, o iPhone deixaria de ser um produto premium para competir numa faixa mais baixa do mercado. E a empresa da maçã estaria abrindo mão de sua margem de lucro, com óbvias consequências para seus resultados financeiros. Considerando tudo isso, o mercado tem como certo que o iPhone 5 começa a ser vendido, no máximo, até outubro.

A concorrência aperta 

O iPhone ainda é o smartphone mais desejado pelo consumidor. É o padrão pelo qual os demais aparelhos são avaliados e continua sendo o campeão em facilidade de uso. Mesmo assim, não há dúvida de que os celulares baseados no Android já o deixaram para trás em alguns aspectos.
Os modelos mais avançados com o sistema do Google possuem processador mais potente; câmera de maior resolução, capaz de filmar em full HD; acesso a redes celulares de quarta geração, que permitem navegar mais velozmente na internet; e até transceptor NFC, com o qual vai ser possível fazer pagamentos apenas aproximando o aparelho do terminal de caixa. O iPhone 4 não tem nada disso. E, se a Apple demorar para substituí-lo por um modelo mais atual, essa lista só tende a crescer.
Alguns desses avanços tecnológicos, como a câmera que produz fotos e vídeos de melhor qualidade, trazem benefícios imediatos, enquanto outros podem não ter utilidade no momento. O uso do NFC, por exemplo, ainda depende de as empresas de meios de pagamento implantarem uma rede de terminais compatíveis nos estabelecimentos comerciais. É algo que não deve acontecer – ao menos não em larga escala – neste ano. Mas, para o consumidor, não ter esse recurso no smartphone pode trazer o temor de que o aparelho fique obsoleto quando os terminais vierem. Assim, muitos vão achar que é melhor garantir-se comprando um modelo com NFC.  

Terremoto joponês

A razão mais óbvia por que a Apple pode estar retardando o lançamento do iPhone 5 é o terremoto no Japão, que afetou alguns dos seus fornecedores de componentes. Sabe-se que, após o terremoto, a Apple imediatamente enviou seus executivos de suprimentos à Ásia para avaliar a situação e contornar eventuais problemas. Eles teriam fechado novos acordos com empresas de Taiwan e de outros países para garantir o suprimento de peças. 
Existe, também, a possibilidade de a Apple estar alterando a data de chegada do novo iPhone não por necessidade, mas por uma decisão estratégica. Nesse caso, o adiamento seria bom para a empresa. O objetivo seria aproveitar o impacto do lançamento para impulsionar as vendas de fim de ano.  
Há uma parcela dos consumidores que pode preferir um smartphone com Android recém-lançado em vez de um iPhone que já está no mercado há quase seis meses. Assim, soltar o novo modelo em setembro ou outubro, em vez de junho, seria uma maneira de garantir que ele chegue fresco à temporada de vendas de dezembro, a mais importante do ano. 

Pagamento no celular

O adiamento também daria, à Apple, mais tempo para incorporar, ao iPhone, tecnologias que só agora estão se tornando funcionais. É o caso do acesso às redes celulares de quarta geração e dos pagamentos via NFC. Essas duas tecnologias interessam muito à Apple. O NFC permitiria, à empresa, empregar a estrutura de recebimento que ela criou para a loja iTunes para intermediar pagamentos a outras companhias. Já o 4G pode viabilizar novos serviços de computação em nuvem. A empresa pode passar a oferecer filmes por streaming, por exemplo. 
O caso do iPhone 5 mostra que, embora o consumidor se irrite quando seu aparelho eletrônico fica obsoleto rapidamente, ele é também agente desse processo, já que tende a rejeitar modelos que não incorporam as últimas novidades. Isso é especialmente válido na faixa premium do mercado, onde ficam os produtos da Apple. Naturalmente, se a pessoa se dispõe a pagar um preço acima da média por um produto onde a tecnologia é o principal atrativo, ela vai esperar encontrar os recursos tecnológicos mais avançados nele.


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