DO VALOR
DE SÃO PAULO
O dólar comercial subiu 0,94% e fechou a R$ 1,925 nesta
quarta-feira, com máxima de R$ 1,931. Esse preço é o maior já registrado desde
17 de julho de 2009, quando a moeda fechou cotada a R$ 1,928.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o dólar
com vencimento em junho apontava alta de 0,83%, a R$ 1,9355 antes do ajuste
final de posições. Também na BM&F, o dólar pronto (negociações à vista)
subiu 1,78%, para R$ 1,9215, e teve giro de US$ 35 milhões.
A alta da moeda tem respaldo na piora de humor externo e na
queda acentuada dos juros futuros. Quanto menor a taxa de juros local menos
atrativas a operações de carry trade (arbitragem de taxa de juros). No lado
técnico, o viés também é de alta no preço da moeda americana. Os estudos de
curto prazo mostram dólar entre R$ 1,950 e R$1,960 no mercado futuro. O
contrato para junho atingiu R$ 1,942.
TENDÊNCIA DE ALTA
Para o analista técnico da MyCap (home broker da corretora
Icap), Raphael Figueiredo, a moeda americana rompeu uma linha de tendência de
baixa de dez anos. "Toda a valorização do real dos últimos dez anos
estaria comprometida", diz o especialista.
Figueiredo também avaliou o comportamento do real com
relação a outras moedas, como peso mexicano, dólar australiano e libra, e na
grande maioria das comparações essa linha de tendência também foi rompida. O
movimento, porém, ainda precisa ser confirmado. Por ora, diz o analista, o que
se pode afirmar com algum grau de certeza é que o real não é mais a moeda mais
desejada do mundo.
Para o economista e professor da PUC-Rio, André Cabus
Klotzle, uma série de fatores conspira para a valorização do dólar, que, de
fato, pode chegar a romper a linha de R$ 2,00 no curto prazo. Entre os fatores
destacados pelo especialista está a grande incerteza por parte do investidor
estrangeiro em relação à recente ingerência política sobre a taxa de juros,
spread bancário (diferença entre o custo dos bancos para captar recursos e o
que cobram na ponta, de consumidores e empresas) e intervenção cambial.
"A percepção é de que a política econômica mudou, e a
equipe que a conduz busca um 'atalho' para a ordem natural das coisas. Em vez
de realizar as reformas estruturais necessárias a uma queda consistente dos
juros, optou-se por 'forçar' a redução da taxa básica", explica.
Na visão de Klotzle, sem as reformas tributária e
previdenciária, cortes mais consistentes nos gastos de custeio e combate
efetivo à inflação (cuja meta, na sua avaliação, não é mais de 4,5%, mas algo
próximo a 6%), a queda dos juros acrescentará mais gargalos ao crescimento
futuro e gerará inflação ascendente.
"Esse é o pior cenário para o capital
estrangeiro", diz. Outro ponto citado pelo especialista é que o BC parece
disposto a seguir a retórica da equipe econômica, e potencializar a alta do
dólar, descolando o real das outras moedas emergentes.
Para Klotzle, não existe mais um patamar próprio para
intervenção, como era o nível de R$ 1,90 no fim do ano passado.
"Parece que foi abandonada quaisquer
estratégias de suavização do movimento de alta, e a nova ordem é deixar o
câmbio solto e sempre para cima, seja com movimentos graduais ou, mesmo,
bruscos, como os observados nos últimos dias, sem receios ou ressalvas",
concluiu.
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