Daniele Madureira | Valor
Quando Paulo Campos Telles, neto do fundador da Ypióca,
Dario Telles de Menezes, assumiu a empresa na década de 40, seu sonho era
transformar a imagem da cachaça, de bebida barata e popular a “uísque
nacional”, conferindo orgulho patriótico à aguardente. Quase 100 anos depois, a
maior fabricante mundial de uísque, a inglesa Diageo, pagou R$ 900 milhões para
se tornar dona da marca, vice-líder em cachaça no país, só atrás da 51, da
Companhia Müller de Bebidas.
É a mais cara aquisição da Diageo no Brasil e a maior
operação da história envolvendo uma fabricante de cachaça nacional. No ano
passado, o grupo italiano Campari comprou a brasileira Sagatiba por US$ 26
milhões.
Com a aquisição, a Diageo, dona do uísque Johnnie Walker e
líder mundial em bebidas premium, coloca definitivamente os pés no mercado
popular brasileiro. Até então, seu produto mais barato era a vodca Smirnoff,
cuja garrafa custa cerca de R$ 20. Nega Fulô, sua cachaça premium, sai por
volta de R$ 80. Já a Ypióca pode ser encontrada a R$ 7.
A operação acontece em um momento estratégico para a
categoria. Nos Estados Unidos, maior mercado mundial de destilados, a cachaça
passará a ser reconhecida como um “produto genuinamente brasileiro”, fabricado
exclusivamente no Brasil, conforme compromisso bilateral assinado pela
presidente Dilma Rousseff em abril. Em contrapartida, o Brasil deve reconhecer
o uísque de milho como bebida típica americana.
“Com base nesse reconhecimento, podemos pleitear redução no
imposto de importação nos EUA”, afirmou ao Valor o presidente da Diageo Brasil,
Otto Von Sothen. Segundo o executivo, a aquisição da Ypióca complementa não só
o portfólio da Diageo, com um produto popular, mas expande em 56% o número de
pontos de venda no Brasil, de 160 mil para 250 mil. A compra incrementou em 20%
o volume da empresa no país.
A Diageo ficou com a marca Ypióca e demais bebidas
destiladas da família Telles (Sapupara, Rio, Hypnose), uma destilaria em
Paraipaba (CE), a unidade de envasamento em Messejana, no sudeste de Fortaleza,
e o centro de distribuição em Guarulhos, na Grande São Paulo. Paraipaba tem
capacidade para produzir 126 milhões de litros por ano. Até hoje, os produtos
nacionais da Diageo eram fabricados por terceiros, caso da Nega Fulô e de
algumas linhas da vodca Smirnoff, como a versão Ice. Esta é a primeira vez que
a multinacional inglesa assume a produção local no Brasil. Serão absorvidos 700
funcionários da Ypióca.
Os Telles se mantêm no comando de outros negócios da família
(ver texto abaixo) e ficam com quatro destilarias que também fabricam Ypióca:
Jaguaruana, Pindoretama e Acarape (no Ceará) e Ceará-Mirim (no Rio Grande do
Norte). Nessas unidades, a família vai se dedicar à produção de etanol e
complementar a produção de Ypióca para a Diageo. Segundo apurou oValor, durante
pelo menos três anos, os Telles se comprometem a fornecer cachaça com
exclusividade para a multinacional inglesa. A família não tem mais função
executiva na Ypióca, mas o bisneto do fundador, Everardo Telles, filho de
Paulo, se mantém como conselheiro da fabricante.
Dona de uma participação de 8% em volume no mercado nacional
de cachaça, a marca Ypióca é vice-líder em valor (só depois da Caninha 51) e
terceira colocada em volume, depois de 51 e Pitú, que pertence à empresa
familiar de mesmo nome, com sede em Vitória de Santo Antão (PE).
“A Ypióca cresceu 13% ao ano nos últimos anos, mais do que a
média do mercado, e vemos grandes oportunidades de expansão para além do Ceará,
onde estão concentradas 70% das vendas da marca”, diz Von Sothen.
Com a compra, o Nordeste, que já representava um terço das
vendas da Diageo no país, passa a ser o maior mercado da multinacional no
Brasil – 60% da venda de uísque da Diageo se concentra na região.
A aquisição deve dar lucro em cinco anos, segundo a Diageo.
Em 2011, as vendas da Ypióca somaram R$ 177 milhões.
Fonte: Daniele Madureira | Valor. Colaborou Letícia Casado,
de São Paulo
Compra da Ypióca pela Diageo envolve apenas parte dos ativos
A Diageo especificou há pouco os detalhes da compra da
Ypióca. A multinacional inglesa optou por comprar apenas parte dos ativos da
companhia brasileira.
“Avaliamos que apenas uma fábrica e a destilaria eram
suficientes”, diz Otto Von Sothen, presidente da Diageo Brasil. A multinacional
comprou só uma fábrica, localizada em Paraipaba, no interior cearense, e uma
unidade de envase no bairro de Messejana, em Fortaleza, além de um centro de
distribuição em Guarulhos, na Grande São Paulo. Essas unidades fabris têm
capacidade para produzir 126 milhões de litros por ano. Serão absorvidos pela
multinacional 700 funcionários.
A família Telles, que fundou a fabricante de cachaça em 1846
no Ceará, manteve quatro das cinco fábricas da Ypióca e passa a fornecer com
exclusividade cachaça para a Diageo, por tempo indeterminado.
Os Telles ficaram com as fábricas de Acarape, Jaguaruana,
Pindoretama (todas no Ceará) e Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte.
Com a compra, o Nordeste, que já representava um terço das
vendas da Diageo no país, devido ao alto consumo de uísque na região, passa a
ser o maior mercado da múlti no Brasil. A partir da operação, o número de
pontos de venda da Diageo no país passa de 160 mil para 250 mil.
A Diageo e a família Telles estavam negociando há um ano e
meio. O BTG assessorou a Ypióca na operação.
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